Beijo no cérebro... Criei esse blog quando tinha meus 15 anos... Hoje tenho 18, e muitas coisas na minha vida aconteceram... A vida é feita de travessias, cabe a você estar preparado para realizá-las. 1 Beijo no cérebro!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Vítimas do próprio direito

Poderia começar o texto de hoje destacando que sou negra, pobre e fui bolsista em uma rede de ensino muito boa. Poderia começar dizendo que sou a favor de todo tipo de inclusão social, desde cotas raciais até as sociais. Poderia dizer que sou de humanas, e tenho como DEVER ser de esquerda, e ser a favor da divisão de terras pro MST. Mas não vou.
 O objetivo, é retratar o que jovens como eu, sofreram durante seu amadurecimento profissional. Em 2012 terminei meu ensino médio. Tive a sorte, privilégio ou mérito de ter concluído o 2° grau com excelentes professores, e uma turma maravilhosa que confesso ter conhecido melhor apenas no ultimo ano.
 No ano seguinte entrei pro extensivo pré-vestibular. Aprendi em um ano a lidar com a pressão constante. Aprendi a controlar meus sentimentos, e abdicar de eventos e coisas que eu amo, para passar 4 horas ininterruptas estudando, e dessa forma lutar por uma única vaga em uma universidade estadual/federal. Fui mecanizada e coagida a escrever de acordo com que os poderosos organizadores das provas pensam, e não de acordo com os meus pensamentos e ideias. Milhares de conteúdos, dos quais eu não lembrava mais, foram empurrados guela abaixo, e fui forçada a estudar coisas que não eram da minha área, para um exame inescrupuloso e impiedoso, como são os processos seletivos brasileiros.
 O Brasil está entre os primeiros de uma lista que classifica os piores países em educação. Está também entre os países mais desiguais. E não é apenas financeiramente falando. A segregação racial no país, apresenta diferenças mínimas se comparado há centenas de anos atrás, na escravidão. Talvez a única diferença latente, seja o fato de hoje o preconceito racial e social, ser mascarado. E é obvio que uma coisa puxa a outra. O curso de Relações Internacionais na usp, não tem um aluno negro. E se a pesquisa for estendida na universidade, o índice de negros  não chega a 1%. É uma vergonha morar num país tão preconceituoso, e paralelamente ser de maioria negra e pobre.
A educação que todos deveriam ter acesso, é mais um item luxuoso, que apenas famílias abastadas possuem para as suas crias mimadas, e que no futuro, assim como os pais, controlarão toda a sociedade brasileira. Para pessoas que não tiveram a sorte que eu tive, de conseguir bolsa numa boa escola, e ter uma formação boa, sucumbem a desmotivação proveniente da falta de oportunidades, que alunos da maior universidade do país insistem em pregar que existe, e que estão aí para serem aproveitadas.
Aprendi com o extensivo... na verdade mais com a vida, que vestibulares não classificam quem você é, ou o seu nível de inteligência. É só mais um mecanismo excludente e ridículo. Enem está aí para provar. Milhões de jovens esperançosos prestam esse exame, com a fé de que poderão entrar em alguma universidade patrocinada pelo estado, quando na verdade as vagas são poucas e os concorrentes muitos. Assim como a vunesp. Assim como a fuvest. Assim como qualquer outro vestibular. E quem não está onde você está, quem não está passando pelo que você está passando, pensa que sua obrigação (já que não trabalha, apenas estuda), é passar num curso cuja a relação candidato/vaga, já te faz querer desistir.
Os espectadores da sua vida, que não lutaram, e que também se contentam com qualquer posição que a vida lhes der, acreditam que você tem por obrigação passar numa estadual já que está estudando veementemente para isso, com tanto afinco. A questão é que nossos estudos são apenas a ponta do iceberg. A outra parte normalmente é a maior: as vagas e os exames. Hoje posso dizer que conheço pessoas que fizeram 3, 4 anos de cursinho, e ainda assim não passaram e ouso afirmar: a culpa não é deles. Até quando iremos lutar por algo que é nosso direito? Até quando vamos sucumbir e aceitar sem protestar, essa meritocracia ridícula que o sistema nos impõe? Enquanto isso, salas e mais salas de alunos que estudam na rede pública estão cheias, formando pessoas de cabeças vazias, muitas vezes por falta de motivação de profissionais mal remunerados. É difícil se levantar contra o sistema, quando poucas pessoas pensam em fazer isso. É difícil lutar por direitos que aparentemente só nós, estudantes temos consciência. Mas é importante lembrar, e incutir em nossas mentes que a mudança é gradual e começa hoje, para que um futuro mais igualitário não seja utopia.




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